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domingo, 3 de novembro de 2013

20 anos e uma loucura


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De todos esses vinte anos que eu vivi, dessas vinte voltas ao redor do sol, dessas vinte primaveras a qual tenho passado, eu vi, vivi, aprendi e sofri com várias coisas.
Passei pelo novo, pelo improviso, pelo não esperado, pelo assustador.
Fui feliz, fui eufórico, fui triste, chorei.
Eu casei, namorei, fiquei de mimimi, quebrei a cara.
Eu fui gótico, emo, punk, normal.
Eu já fui evangélico, satanista, agnóstico, ateu.
Eu já me senti alguém, pensei ser alguém, quis ser alguém, fui ninguém.

Lembro-me da minha época de criança, eu era tão feliz, sem preocupações com nada, só queria correr, brincar, cantar, dançar, falar, falar e falar...

Caí na instabilidade da adolescência, eu “troquei de identidade” várias vezes, e todas elas em vão, eu “me procurava” em coisas que eu nunca me encontraria. Eu era inseguro na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, no que acontecia e no que eu apenas tinha vontade que fosse.

Desde pequeno, sempre tive uma dificuldade em demonstrar o que eu sentia, tenho dificuldade em me abrir, assim como o medo de me abrir e quebrar a cara. Então sempre escrevi o que eu estou pensando, escrevia e lia, relia e guardava. Sempre me achei diferente, por isso. Mas eu continuava a escrever sobre mim, sobre as pessoas a minha volta, sobre o meu mundo.




Mas na verdade, o que eu tinha era medo, medo de admitir - mesmo que por palavras em um papel esquecido - que eu sentia coisas demais. As pessoas não eram dignas de tanto sentimento. Pessoas sempre nos decepcionam, repetia para mim mesmo.

Viver à espreita da decepção tem suas vantagens, quero dizer, pessoas que desconfiam antes de acreditar tem mais chances de saírem ilesas de alguns relacionamentos. Nem preciso dizer que me forcei ser essa pessoa durante boa parte da minha vida. Antes mesmo que a decepção pudesse tocar minha campainha, eu já havia aberto a porta, preparado um café, e colocado um tapete de boas-vindas na entrada. É mais fácil aceitar a decepção do que ir contra ela. Venha decepção, senta aqui, me conta as últimas, e puxa, por que demorou tanto? As desvantagens de ser uma pessoa assim? Todas as outras. Pessoas desconfiadas não abrem o seu coração, e bem, se elas não o abrem, como poderá o amor entrar? E desse veneno, eu também provei. Na porta do meu coração - lacrada a sete chaves - tinha um outdoor com dizeres que piscavam ''Eu sei que você é um idiota e diz isso para todas os outros. Nem adianta.'' 

E foi assim, e eu achava que ia ser sempre assim, e eu queria que fosse sempre assim.

Até o dia em que perdi o controle. Eu te amo, muito. De verdade. Disse enquanto olhava no fundo dos olhos dele. Eu nunca olhava nos olhos de ninguém. Sei lá. Me incomodava o fato de que alguém pudesse ver o que eu sentia através dos meus olhos.

Do seu lado eu fico em paz, é como se nada no mundo pudesse me atingir. É como se eu soubesse que o mundo poderia acabar a qualquer segundo, e não me importasse nem um pouquinho com isso. Pois estaria ao seu lado. 
Sempre observava casais apaixonados pelas ruas da cidade, e me perguntava se o que eles tinham eram realmente de verdade, ou só mais uma encenação bem feita como nos filmes. Eu os invejava. Por que eles eram tão felizes? Por que eu não podia ser como eles? 
Eu me perguntava: Será que sou capaz de fazer loucuras por algo que eu acredito que pode dar certo?
E fiz.

Essas palavras poderiam estampar toda uma página dos meus textos, com toda a certeza. Mas isso era verdadeiro e forte demais para ser escrito em um papel que poderia se rasgar com o tempo. Disse tudo isso olhando nos fundos dos olhos dele. Espremi os sentimentos para fora do meu corpo sem me importar se eles pareciam exagerados ou tolos demais.

Logo depois tirei o tapete de boas-vindas para a decepção, fechei a porta, fiz a cama, e pedi que ele ficasse deitado comigo em silêncio por um tempo. Eu precisava escutar a sua respiração, sentir a sua presença, e permitir que ele abrisse a porta, agora entreaberta, do meu coração. Antes de entrar, leia o outdoor que agora diz ''Pode entrar, e fazer bagunça. Mas por favor, promete que vai ficar?'' Fica, vai.

E pela primeira vez eu não tive medo de sentir tanto. Eu só sabia que queria sentir mais. [...]


Capítulo em construção...